22 de abril de 2006

literary review

(do escritorio, com o trabalhinho acabado)

livros que tenho lido debaixo da terra:

Hard-Boiled Wonderland and the End of the World, do Haruki Murakami: arranjei este livro emprestado da namorada, e durante uns meses tornou-se uma obsessao. E' mais matematico que poetico (com historias dentro de historias e coisas do genero), tem uma cena que me ia fazendo desmaiar no metro e 'as vezes parecia-me um bocadito a puxar para o clichetico filosofia-de-vida-barata (ver abaixo), mas foi uma boa experiencia.
Uma terrivel experiencia foi Veronika decide Morrer, do Paulo Coelho. YYEEEAAAKKHHHH.... Tambem por culpa da menina, que teve uma discussao comigo depois de eu lhe dizer que nao gostava sem ter experimentado. Pimba, passado um mes recebia o livro como presente. Mas ainda bem - percebi que era ainda pior do que imaginava, e porque. Nao so' esta' impregnado de cliches ate' 'a nausea, mas trata o leitor como um atrasado mental e chega a ser moralmente relativista, i.e., a ideia e' que os loucos nao sao loucos, mas sim o mundo 'a volta deles, por isso façamos o que nos da' na telha que esta' tudo bem. E ate' tem uma cena de sexo, completamente idiota e sem jeito nenhum; suspeito que esta' la' so' para apelar aos instintos primitivos de quem lê.
Felizmente, tive o Tom Wolfe e I am Charlotte Simmons como companhia durante mais uns tempos. Algures por aqui escrevi que estava a delirar com a coisa; mas passados tres quartos do livro o homem endoidece - a historia transforma-se numa amalgama maniaco-depressiva, o fim e' alinhavado a despachar e e' tudo tao negro, tao malefico, que nao se chega a lado nenhum. Ja' devia estar habituado com as historias cinicas do Wolfe, mas esta foi por demais. De qualquer maneira, antes do fim e' mesmo bom e muito bem escrito.
Farto de romances merdosos e negativistas, virei-me para a economia e estou a ler um classico: The Road to Serfdom, do Hayek. Nao tem cenas de sexo nem apela a sentimentos baixos e e' realmente um bocadito para o chato, mas dito isto e' uma base optima para compreender o liberalismo e a (boa falta de) organizaçao da sociedade capitalista (apesar de ter uma parte sobre os alemaes, que, se fosse hoje e nao no tempo da 2a Guerra, dava cadeia...). Muito interessante e perfeito no meio destes liberals americanos de Nova Iorque.

a vergar a mola,

Sabado. E depois nao se queixem que nao escrevo. Melhores dias virao...

18 de abril de 2006

o chicote

nao para de me fustigar as costas. Esta e' uma semana terrivel no trabalho, e ainda por cima a minha maquina avariou-se por isso nem vos posso mostrar o Massachussets, onde fomos passar a Pascoa com um familia de nativos. Melhores dias virao, alias daqui a pouco o regresso da Mana!

13 de abril de 2006

no Met

vísceras

de animais abandonadas, no passeio, em frente ao cabeleireiro altamente XPTO onde a minha dama me obrigou a ir fazer uma marcação (tenho impressão de que as tesouradas das amigas têm os dias contados). Afinal, estamos no Meatpacking District - onde o estilo ombreia com a carne, ainda que esta já não esteja à esquina como nos good old days em que o bairro era a imagem da decadência novaiorquina (e só havia carne, sem estilo). À boa maneira cá da terra, o salão estava overstaffed, quer dizer, seis moças ao balcão a sorrir para mim, enquanto três paneleiros, perdão, jovens com glamour, me perguntavam, um de cada vez, se estava bem e se precisava de ajuda (no fim esqueceram-se de me explicar o que é que me iam fazer). De qualquer maneira, a cavalo dado não se olha o dente, e como o corte é à borla ficou marcado para Agosto. Até lá tenho tempo de ir às amigas (com boas intenções, não vá a búlgara arranjar um tradutor de português) e de deixar a dica às bloggers luso-novaiorquinas que queiram entrar no estilo meatpacking sem gastar um tusto: experimentem.

paraíso

dos putos: o camião dos gelados. Outra lenda americana, agora que chegou o calor. Todos os dias passa na nossa zona, uma carroça a cair de podre chamada "Mr. Softy" com a mesma música tocada a partir da mesma cassete já frita de tanto rodar. Na Nova Iorque de hoje em dia, na zona mais glam da cidade, la-la-la-la-lalalala-la-lala-lala, nem os sinos gravados nas igrejas das aldeias em Portugal soam tão a cana rachada. E depois, quando ia tirar uma foto ao "Mr. Softy" para pôr aqui, o gajo (ao mesmo tempo que servia umas criancinhas inocentes) entrou em delírio: "No photos!! You don't even know me!!! Are you crazy?!?!?!". Mr. Softy o cuaralho...

12 de abril de 2006

comer

O meu restaurante preferido é a Taqueria California. Um tasco ao pé de casa, literalmente um corredor com uma casa de banho manhosa atrás, uma jukebox que só passa reggaeton e los tigres del norte, e a televisão com talk-shows portoriquenhos sempre a bombar. Nas paredes, uns posters igualmente duvidosos, um deles com um carro americano, um gajo musculoso agarrado a uma gaja e a frase "Orgullo Azteca". Mas a comida mexicana é do melhor, baratíssima (come-se por 5 dólares) e o serviço impecável - é como estar em casa. Toda a gente é do mais simpático possível, com um sorriso honesto e tudo feito nas calmas, como deve ser - a comida chega logo, não a conta. Isto descobri que é impagável em Nova Iorque.
Há uma semana, como prenda de anos de mim para mim, fui jantar a um dos sítios da moda (ou já foi?), a Lever House, nesse mesmo edifício icónico de Nova Iorque, o Seagram em alumínio e vidro verde (é mesmo em frente). Nada de mais diferente. É preciso reservar e dar o nome a uma fúfia com sotaque francês. Quando se chega, dão-nos o lugar mais ranhoso, ao lado da caixa registadora, fruto do nome plebeu. Mas pronto, o espaço é incrível - é como jantar numa nave espacial. Entretanto, tentamos chamar a waitress, mas ela ignora-nos. Logo chega um gajo engravatado, desculpe, posso ajudá-lo? e a seguir - queria alguma coisa e ela não fez? tipo: esta vaca está aqui está na rua, se o senhor quiser. Depois, a minha bela companhia vai à casa de banho e lá está o personagem número três, desta vez uma mulher. As casas de banho são uma fila de portas sem identidade, num corredor escuríssimo. A mulher, aqui, acompanha o cliente à porta e diz-lhe: por favor tranque a porta. Mas não faz mais nada, rigorosamente. Ou seja, quando a jovem ia entrar, estava um senhor a mijar lá dentro. Please lock the door, sir.
No fim (a comida era boa, diga-se) trouxeram-me a conta sem lhes ter pedido nada. Olhei para a gaja com ar de carneiro mal morto, e ela - Ai quer café? desculpe. Vaca, levou a conta de volta e tornou a trazer. Nem vale a pena dizer quanto, mas uns bons dias de trabalho ficaram ali enterrados naquela noite.

O que vale é que quando cheguei de Washington, no dia dos meus anos à noite, a Taqueria estava aberta.

8 de abril de 2006

aos bloggers portugueses no estrángeiro

(e ao Pacheco Pereira),

Se quiserem ter acentos e cedilhas nos teclados merdosos que abundam por esse mundo fora (digo isto porque o teclado português permite escrever em todas as línguas), vão a este link.

~

isto é, se tiverem Windows, que também não é grande sistema (e viva a Apple que vai juntar os dois sistemas num só computador).
Eu quando posto do trabalho já decorei que [alt]+135 dá cedilha, e [alt]+250 um ponto de divisão.

7 de abril de 2006

National Gallery

National Archives

6 de abril de 2006

3 estereotipos novaiorquinos

[devido 'a estranha ausencia dos responsaveis, nao ha' nada para fazer a nao ser escrever - bom...]

o rapaz de chelsea: imberbe, saltitante e gay, bem vestido e cheiroso, parece incrivelmente jovem, todo maquilhado e botoxizado. Gosta de dançar em cima das mesas e lentamente despir as calças, enquanto faz olhinhos aos seus companheiros mais masculos (estes chamados de "homos", um termo muito mais viril). Curiosamente, desloca-se em manada. Os seus membros, no Verao, gostam de adoptar um vestuario muito apropriado 'a estaçao: quase nada.

a modelo anoretica: loura, cabelo liso, casaco de camurça, calças de ganga azul apertadissimas e botas pelo joelho. Nao ha' um dia em que nao veja uma ou duas aqui no meatpacking. Mas ao contrario dos de cima, anda sozinha porque obviamente detesta todas as outras iguais a ela. O extase deste especime foi uma noite destas numa festa italiana em que, de um casaquito ja' estreito, saiam duas estacas, tipo desenho de puto - um rectangulo com duas linhas. Eram as pernas, que aparentemente nao se uniam no rabo tamanha era a elegancia (ainda por cima a gaja devia medir uns dois metros de altura).

o gajo da casa de banho: imigrante, provavelmente ilegal, e que ganha a vida a viver nas casas de banho dos clubes e restaurantes (que aqui pela maça sao autenticas catacumbas de escuridao). Entra-se e la' esta ele, em pe', espera que o cliente mije (na mesma divisao), depois abre a torneira, espreme-lhe sabao liquido para as maos e da-lhe uma toalhita. Depois disso limpa religiosamente o lavatorio e recomeça. So ganha das gorjetas, mas aposto que faz mais numa noite que eu numa semana. Um dos ultimos que encontrei estava a ter esta conversa com um jovem financeiro:

- entao, esta' uma noite fixe
- ah, sim, porreira
- estas-te a divertir?
- hmm sai' agora do trabalho para fazer uma pausa, e daqui a duas ou tres horas volto para la'.

isto foi 'as duas da manha.

impressionante

O Massacre de Lisboa, na Rua da Judiaria.

5 de abril de 2006

cai neve, furiosamente

4 de abril de 2006

O Império

O gajo gostava de cúpulas. E de arcos, colunas, pedra, gregos e romanos. John Russel Pope, o "Arquitecto do Império", desenhou alguns dos edifícios designados como representadores da capital da América potente e democrática, grandiosa e tranquilamente clássica. O nível dos pormenores é impressionante: tudo, mas mesmo tudo, é desenhado. O mais miseravel bebedouro tem uma elevação artística quase divina, em bronze envolvido numa moldura de pedra (foi a viagem deste fim de semana).
É interessante como não se poupou dinheiro público no país em que tudo o que não se paga é em geral da pior qualidade. E os resultados são magníficos - fez-se pouco em quantidade (Washington é uma partícula na imensidão americana, e o peso dos políticos na vida comum é muito pouco) mas a qualidade de tudo é tal que se torna deprimente [saber que é quase impossível trabalhar assim hoje em dia]. O homem divertiu-se, está claro, mas também passou as passas do Algarve, porque teve o azar de terminar algumas das obras nos anos 30 e 40 (o memorial e a galeria, póstuma) e levar com a retórica do establishment em cima: a National Gallery foi etiquetada de "mumia" tudo porque, adivinhe-se, era clássica e não representava o espírito da América moderna (alem disso, o' heresia, estrutura metalica revestida a marmore.)
Pope acabou como queria, e construiu como queria (colunas maciças, paredes de 2,40m no templo). E hoje em dia, os outros, os museus da America moderna la estao, arcas congeladoras gigantes, sem piada nenhuma e com a unica atracçao de serem gratis. Porra, nao sou nenhum anti-modernista, mas a diferença de qualidade entre os edificios classicos do Pope e os cagalhoes modernos plantados no Mall e' tao grande, tao grande...

3 de abril de 2006

John Russel Pope : Washinton

Jefferson Memorial

John Russel Pope : Washinton

National Gallery

John Russel Pope : Washinton

Temple of Scottish Rite